Tamanho importa: parágrafos, sentenças e palavras grandes. Por que devemos evitá-los?
- Gabriel
- 10 de out. de 2022
- 3 min de leitura
Parágrafos grandes, frases enormes, palavras gigantes. Você já notou como o tamanho desses blocos de linguagem afetam a sua leitura? Acredite, o cumprimento deles pode dificultar, e muito, sua experiência como leitor. Quanto maior o bloco, mais difícil será a sua leitura — é o que afirma o especialista em legibilidade George R. Klare.
Vamos ao exemplo:
A passagem de uma explicação estruturalista em que o capital é entendido como estruturando as relações sociais de maneiras relativamente homólogas para uma concepção de hegemonia em que as relações de poder estão sujeitas à repetição, convergência e rearticulação trouxe a questão da temporalidade para dentro do pensamento sobre a estrutura, e marcou uma mudança desde uma forma de teoria althusseriana que toma as totalidades estruturais como objetos teóricos para uma [forma de teoria] em que as intuições a respeito da possibilidade contingente de estrutura inauguram uma concepção renovada da hegemonia como ligada com os espaços e estratégias contingentes da rearticulação do poder.
O parágrafo acima é formado por uma sentença só, de 103 palavras. Difícil de ler, né? Em parte por causa de seu comprimento, a sentença ganhou o prêmio de pior escrita em 1999. Agora que você viu esse ótimo exemplo de péssima escrita, já posso até adiantar a conclusão desta matéria: devemos controlar o tamanho dos blocos de linguagem que compõem o nosso texto.
Mas calma! Não precisamos ficar paranoicos e sair por aí calculando, palavra por palavra, cada oração, sentença ou parágrafo que formos escrever.
Como tudo na vida, nossas escolhas linguísticas têm uma medida, dependendo da situação e da nossa intenção. Se você quiser escrever textos em prosa clara, as informações sobre medidas a seguir serão úteis.
QUAL O TAMANHO IDEAL DO PARÁGRAFO?
Escreva parágrafos curtos! Eles mantêm a atenção do leitor.
Você pode escrever, inclusive, parágrafos de uma sentença só.
Além de não sobrecarregar o leitor com muitas informações de uma vez, os parágrafos curtos tornam o texto mais convidativo. Compare. Qual dos dois textos abaixo você preferiria ler (considerando somente a aparência)?

O primeiro texto afasta o leitor antes mesmo da leitura. O segundo, por outro lado, quebra as informações em pequenos grupos, tornando o texto mais fácil de digerir. Os parágrafos curtos do segundo texto também retiram a sobrecarga visual por causa dos espaços em branco.
QUAL O TAMANHO IDEAL DA SENTENÇA?
No caso da sentença, as evidências apontam para a mesma direção: é recomendável evitar sentenças longas.
Sentenças longas tendem a ser truncadas, pois geralmente as ideias são jogadas no texto na ordem em que elas vêm à cabeça do escritor. "O problema é que a ordem em que os pensamentos vêm à mente do escritor é diferente da ordem em que eles são mais facilmente recuperados pelo leitor", diz o psicolinguista Steven Pinker.
Dividir o parágrafo em pequenas sentenças ajuda o escritor a organizar as informações e o leitor a entendê-las. Além disso, sentenças curtas evitam uma séria de problemas que complicam a leitura, como a distância entre sujeito e verbo, por exemplo.
Sentenças longas costumam revelar o pouco senso de relevância do escritor. O excesso de detalhes cria obstáculos difíceis de serem transpostos até por leitores competentes. Repare:
Sentença longa | Sentenças curtas |
Se algum sócio se tornar sócio falido, a sociedade, no exercício do seu poder, por meio do sócio gerente (incluindo qualquer gerente recém-designado sócio), a qualquer momento antes do 180º dia após o recebimento da notificação da ocorrência do evento que fez com que o sócio se tornasse um sócio falido, poderá, havendo interesse, comprar a participação societária do sócio falido. | A sociedade pode comprar a participação de qualquer sócio falido. Para exercer sua opção de compra, o sócio gerente deve notificar o sócio falido no prazo máximo de 180 dias após receber a notificação do evento que causou a falência. |
Pois é... Realmente é muito difícil ler uma sentença tão longa. Quanto mais palavras e proposições a sentença tem, mais complicada é a leitura, de acordo com as pesquisas.
Uma solução para o problema do tamanho das sentenças, além de dividi-las em pedaços mais curtos, é cortar as palavras desnecessárias:
Sentença prolixa | Sentença concisa |
A veneranda sentença deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos. | A sentença deve ser mantida por seus próprios fundamentos. |
Está claro e patente que os danos à dignidade da pessoa humana do trabalhador ocorreram no curso do pacto contratual trabalhista firmado. | Está claro que os danos à dignidade do trabalhador ocorreram durante o contrato trabalhista. |
Ah! e por falar em palavras...
QUAL O TAMANHO IDEAL DA PALAVRA?
No caso das palavras, esqueça a questão do tamanho e foque na frequência. De acordo com a lei de Zipf, as palavras mais frequentes geralmente são mais curtas — como os verbos ser, ter, dar, ver etc. E, como era de se esperar, as palavras mais frequentes também são mais fáceis de entender.
Mas, se esse é o caso, então por que algumas pessoas gostam de usar palavras difíceis?
Segundo o linguista Marcos Bagno, os escritores costumam usar palavras difíceis porque acreditam que parecerão inteligentes. No entanto, o contrário é verdadeiro. São os textos com vocabulário simples que tendem a fazer o leitor avaliar o escritor como inteligente, segundo os experimentos realizados pelo psicólogo Daniel M. Oppenheimer.
Com base em suas pesquisas, Oppenheimer sugere que é melhor escrever com simplicidade para dar mais fluidez ao texto e, assim, ser bem percebido pelo leitor. Eu mesmo tenho péssimas impressões, confesso, de escritores que gostam de escrever empolado, como nos exemplos a seguir.
Palavras complexas (pouco frequentes) | Palavras simples (frequentes) |
É imperioso não olvidar que o condão da Carta Magna deriva do povo. | É importante lembrar que o poder da Constituição deriva do povo. |
Reputo escorreito evitar vernáculo abstruso, mormente em textos de interesse público. | Acho correto evitar palavras incomuns, sobretudo em textos de interesse público. |
Nunca é tarde para parar de usar palavras incomuns. Se eu consegui, qualquer um consegue.
LIÇÃO DO DIA
A lição que fica disso tudo é: não ache que é bonito ser feio. A escrita empolada não ajuda nenhum escritor a melhorar sua imagem. Tamanho importa, mas não se preocupe com isso no caso das palavras — foque na frequência. Cuidado com parágrafos e sentenças longas e sempre use palavras frequentes.
Até a próxima, pessoal!