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Cuidado com as nominalizações!

  • Foto do escritor: Gabriel
    Gabriel
  • 14 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 10 de out. de 2022


Nominalização. É provável que você nunca tenha ouvido falar nessa palavra, a não ser que você tenha uma tara por assuntos linguísticos. Apesar de soar estranha, a nominalização se refere a um fenômeno muito comum — às vezes comum até demais.

Nós nominalizamos o tempo todo. Por exemplo, nominalizamos toda vez que transformamos um verbo ou um adjetivo em um nome: improvisar (verbo) > improvização (nome); formoso (adjetivo) > formosura (nome). A própria palavra nominalização é um exemplo de nominalização (nominalizar > nominalização). Percebeu?



No português, geralmente usamos os sufixos -ção e -mento para nominalizar, como nos nomes castração e castramento, do verbo castrar.

Até aqui tudo bem. Sabemos que usamos muito as nominalizações e que elas são bem úteis, caso contrário não as usaríamos tanto. Porém...


O PERIGO DAS NOMINALIZAÇÕES


As nominalizações em excesso tornam o texto abstrato e difícil de ler. Veja um exemplo famoso que mostra a diferença entre uma sentença com muitas e poucas nominalizações.

A proliferação de nominalizações numa formação discursiva pode ser uma indicação de tendência de pomposidade e abstração.

Escritores que abusam das nominalizações tendem a soar pomposos e abstratos.

A primeira sentença é vaga porque usa entidades abstratas — isto é, nominalizações —, em vez de personagens concretos. A segunda sentença, por outro lado, indica claramente quem praticou a ação do verbo: os escritores. Sentenças assim, com sujeitos concretos e verbos ativos em vez de nominalizações, tornam a vida dos leitores mais fácil, dizem os psicolinguistas.

De acordo com as pesquisas, os leitores têm que fazer mais esforço para interpretar sentenças com nominalizações no lugar de verbos, porque as nominalizações dificultam saber quem fez o que na sentença. Compare a seguir e veja como sentenças com verbos e sujeitos humanos são mais fáceis de ler do que sentenças com nominalizações.


Mais nominalização

Mais verbos

A excessiva implementação da nominalização cria confusão linguística.

Nós confundimos os leitores quando nominalizamos muito.

A tradição jurídica contribui para a manutenção da propensão acadêmica de utilização de escrita rebuscada.

​Os juristas tradicionais incentivam seus estudantes a escreverem mal.

Há a intenção de propagação do vírus.

O presidente quer que o vírus se propague.

PREFIRA VERBOS EM VEZ DE NOMINALIZAÇÕES


Preferir verbos no lugar de nominalizações é uma regra para escrever textos claros — uma regra autoevidente, acredito. Mas, quando o assunto é linguagem, nenhuma regra é absoluta. Podemos, às vezes devemos, nominalizar: por exemplo, quando queremos ligar partes do texto.

A polícia reprimiu os manifestantes na última passeata. A repressão foi filmada pelos jornalistas.

Apesar de não conseguirmos escapar de todas nominalizações, a regra continua válida: evite-as sempre que puder. As nominalizações sugam a vida do texto. Daí o seu apelido: substantivos zumbis.




Ocasionalmente mesmo pessoas que lutam contra abusos linguísticos pesam a mão nas nominalizações. Por isso, é importante lembrar algo. Não é porque às vezes falhamos em viver de acordo com nosso ideal que o ideal deixou de ser válido. Isso é especialmente verdade para o ideal da linguagem clara.

É isso! Por hoje chega de nominalizações.


Até a próxima pessoal!





 
 
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